25 de abr. de 2023

silêncio absoluto

 


 

quando a solidão preenche todo o espaço

do quarto onde não há mais que um copo vazio

o mundo lá fora desencanta-se em negrume

para enganchar as unhas em teus cabelos

e puxá-lo para a caverna ancestral

sem direito a fogueiras ou a rugidos de feras

a rondar o espanto de estares no meio

do mais absoluto silêncio ainda que ronquem

dentro de ti o motor de mil automóveis

na pista azulada de estrelas em agonia

 

o espaço sideral dentro do teu peito

a girar no sentido horário dos teus pesadelos

tu o levas em teus mais profundos esgares

para o deserto de areias movediças e florestas de cactos

os teus pensamentos em pedras ígneas transformados

lançados ao espaço sem volta de teus verões solitários

quando o espaço do teu quarto se preenche da tua solidão

e tu te tornas o último de todos os desgraçados do mundo


 

22.5.2021

 (Ilustração: Odilon Redon - o ovo, 1885)

 

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