quando a solidão preenche todo o espaço
do quarto onde não há mais que um copo vazio
o mundo lá fora desencanta-se em negrume
para enganchar as unhas em teus cabelos
e puxá-lo para a caverna ancestral
sem direito a fogueiras ou a rugidos de feras
a rondar o espanto de estares no meio
do mais absoluto silêncio ainda que ronquem
dentro de ti o motor de mil automóveis
na pista azulada de estrelas em agonia
o espaço sideral dentro do teu peito
a girar no sentido horário dos teus pesadelos
tu o levas em teus mais profundos esgares
para o deserto de areias movediças e florestas de cactos
os teus pensamentos em pedras ígneas transformados
lançados ao espaço sem volta de teus verões solitários
quando o espaço do teu quarto se preenche da tua solidão
e tu te tornas o último de todos os desgraçados do mundo
22.5.2021
(Ilustração: Odilon Redon - o ovo, 1885)
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