poetas aos milhares escreveram
palavras doces
versos mergulhados em potes de mel
aos milhares outros tantos escreveram
palavras amargas
versos mergulhados no veneno da serpente
não os escrevo todavia – aos versos
nem doces nem amargos
apenas versos de vida tangidos pelo vento
para o deleite ou desprezo
de ouvidos e olhos que não se desencaminham
senão pelo toque do tambor
quando soa o grito de vingança
de todos aqueles que ficaram sangrando pelos caminhos
sem nunca os seus olhos
pousarem num raio de sol nascente
e assim minha poesia às vezes semeia
no ventre sujo da terra
o dissabor da vida
e o estranhar dos que dormem sob as estrelas
e não acordam quando
o soldado armado de fuzil lhes chuta a bunda
na manhã que não acontece
28.8.2021
(Ilustração: Pawel Kuczynski)
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