não é mais vida
quando a vida se resume
a esperar que a vida acabe
vidas esquecidas
talvez até de si mesmas
abandonadas como embalagem vazia
num canto qualquer de uma casa que se esvazia
a cada dia
tocos de velas que de repente
sem que ninguém lamente
se apagam ao sopro de qualquer brisa
a vida um fio frouxo na gola da camisa
um bater de asas do beija-flor
algo de que ninguém mais precisa
espantalho de gente vivendo de favor
por parcos dinheiros
que pagam meia pensão e meia fome
e não pagam os mensageiros
das parcas que não dizem seu nome
não são mais vidas
as vidas assim esquecidas
17.3.2023
(Ilustração: Andrea Kowch, 1986)
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