sento-me à mesa com seis convivas
que não vieram
que não estão ali
vejo-os no entanto sem que precise imaginá-los
vejo-os
todos alegres e sorridentes
numa ceia de natal
claro que ninguém ali acredita em manjedouras
onde um salvador ergue os bracinhos miúdos
para uma cruz negra que salvará o mundo
trincha-se o peru
serve-se a farofa
prova-se o arroz
comemora-se a fartura
erguem-se brindes
e eu ali à mesa vazia acompanhado de convivas ausentes
o clima de festa instalado
vinho e ceia
ceia e vinho
e eu estou só
e eu estou só
e eu estou só
transformam-se os risos e brindes
em sinos que bimbalham ao longe
e minha solidão voa com os pássaros
cegos pássaros presos à árvore seca
12.8.2022
(Ilustração: Hieronymus Bosch: the ship of fools, c.1500-1510)
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