as montanhas de minas chamam minh’alma
eu – ateu engessado e confesso – não tenho alma
sou todo carne e ossos e pelos e lágrimas
a chorar chamas de gelo pelos descaminhos
- cantor sem voz e poeta sem musas
pobre e ferrado aposentado do INSS
- apenas um pontinho negro nas estatísticas
muito jovem jogado no meio da grande metrópole
formei-me em letras e virei professor
joguete agora e sempre das forças econômicas
acordo velho e sem dinheiro
prescreve a pena de poemas cheia
como única forma de sobrevivência
que atenda o chamado das montanhas de minas
mas ateu sem alma e sem mais vontade
não vou morrer tentando voltar ao que não mais existe