depois de tanto tempo a boca tapada
tenho mil coisas a dizer
e minha língua está um rio amazonas
cobra grande esfomeada
contemplando a boiada
escolhendo a presa
mas ao mesmo tempo penso
e não dispenso a vontade de gritar
que deve a língua continuar presa
porque muito mais do que falar
há milhões de coisas que preciso ouvir
há milhões de vozes pelo tempo a reclamar
e isso meus ouvidos não podem ignorar
- e mergulho de novo no mutismo
de estrelas das galáxias que não conheço
para tentar ouvir o que diz o vento do deserto
e pagar com meu desatino o preço
de tanto tempo tapada a boca – o perto
de hoje ficou mais longe e mais distante
quando a morte fincou suas bandeiras
no campo e na cidade e diante
de cada cova somos todos perenes carpideiras
26.9.2021
(Ilustração: Adrienne Marie Louise Grandpierre-Deverzy:
Gian Monaldeschi implore la grâce de la Reine Christine de Suède)
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