adormecidos os cidadãos em seus leitos
a peste em minhas asas
o grito de angústia no bico adunco
abutre noturno em busca da carne podre
sustento meu voo na força do vento que venta do norte
sei o que sou e o que sou é a dor e também a morte
passeio pelo catre imundo do favelado
passeio pelo dossel revestido de ouro falso do velho
capitalista
bico o seio tatuado da madame
corto a carne da bicha apaixonada
estraçalho o ventre da puta solitária
como os olhos das criancinhas em seus berçários
canto a canção do espanto
entrevista em bocas escancaradas
e nada pode deter meu labor enquanto canto
pelos quatro cantos a vitória dos genocidas
enterro bem fundo no leito do rio da morte
as cantigas que não se afinam com o meu doce canto de
morte
prendo no fundo do pântano mais sujo todos os sorrisos
que acaso ainda se escondam atrás de máscaras inúteis
espanto enfim como uma pluma ao vento de agosto
para a concretude de minha sanha e de meu delírio
o sonho e o futuro de cada cidadão que ouse ter o gosto
de olhar em meus olhos e desdenhar o seu martírio
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