7 de set. de 2009

poemas da guerra - 8


8. 

uma cidade



dos longes idos de minha infância em transe recordo

um maço vazio de cigarros num canto de rua:

minaretes e torres traziam oásis de sonho

de uma cidade encantada,

ah! ali onde

aladim e o mágico da lâmpada se estranham

em escuras cavernas escondidas na rocha,

bem ali, onde,

contra as nuvens um tapete arremete,

e esquece sherazade sua última história,

sim, ali, cidade encantada, onde,

no ar, sibila uma adaga,

no templo, um canto se alonga,

na feira, entre gritos e véus o espanto

de dois olhos de safira refletem

outra safira a brilhar,

na esquina furtiva, um beijo deixa-se roubar,

no palácio encantado, entrega-se uma virgem a chorar,

eunucos felizes no harém a vigiar,

e do canto da rua inocente

um maço de cigarros de marca

Bagdá,

um maço vazio de cigarros de marca

Bagdá,

enchem de sonhos os meus olhos

de Bagdá,

e chora mansinho meu coração

de Bagdá,

quando em silêncio da televisão

de Bagdá

o primeiro míssil detona atrás do minarete

do maço vazio de cigarros da marca

Bagdá.






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