(Jacques Louis David - les sabines)
Batei vossos tambores
Tocai vossos clarins
Levantai vossas bandeiras
Juntai vossos amigos e parentes
Gritai palavras de ordem
Marchai pelos campos e pelas cidades
Expulsai os traidores
Destruí todas as fábricas
Enforcai os banqueiros
Derrubai governos e prepostos
Despi das fardas todos os militares
Rasgai todas as vestes sacerdotais
Incendiai palácios templos e repartições públicas
Dinamitai todas as pontes e todos os presídios
Fundi todas as moedas e queimai todos os dinheiros
Libertai-vos finalmente de todo jugo
Prendei e fuzilai os poderosos
Tomai para vós a condução de vossas vidas
Não deixeis pedra sobre pedra
Do império da desigualdade só restem cinzas
Festejai e dançai vossa liberdade
Festejai e dançai vossa liberdade
Pelos campos arrasados e cidades queimadas
Festejai e dançai vossa liberdade
E fazei vicejar tantas vitórias almejadas
Não descanseis ó povos do mundo
Que do mundo velho nada permaneça
Não descanseis ó povos do mundo
Que de novo a desgraça não aconteça
E então enquanto alguns distraidamente lambem suas feridas
Das cinzas da vasta e velha civilização destruída
Um cidadão qualquer se levanta e apalpa o bolso
Tem ainda dinheiro no meio da miséria geral
Chega-se ao vizinho e lhe propõe magros recursos
Com que recomeçar a vida e tocar um bom negócio
A juros módicos que se irão acumular com o sucesso
E então enquanto alguns ainda cantam e dançam sua vitória
Do meio do incêndio já quase agora só brasas
Um esperto cidadão apossa-se da chamuscada chaminé
Acende o fogo e chama os vizinhos esfarrapados
A ajudar-lhe de novo a produzir a soldo parco
Com promessa de um dia melhorar suas vidas
E então enquanto muitos cochilam e descansam depois da refrega
Do meio do nada num campo crestado
Uma família se junta e se abraça e conserta o arado
Dizem-se donos do vasto terreno e semeiam
Um resto de couve no bolso acaso encontrado
E passam a vender o alimento da terra germinado
E então enquanto outros tantos ainda se abraçam em leitos de rosas
Afogado em dívidas o morto de fome um jovem cidadão
Conserta a carroça que puxa ele mesmo pelos campos
Compra da fábrica e do plantador de couves para a todos vender
A cama para o amor da noite e a sopa para fome do dia
A módico preço com o lucro devido por ele estipulado
E assim a despeito de tudo quanto destruíram
Pouco e pouco a antiga civilização se reconstrói
Com poucos amealhando muito e muitos
Comprando com o pouco que ganham
Dos poucos que se dizem donos da terra
Dos poucos novos ricos que tudo produzem
Assim se vende de tudo e a todos por esses poucos
Com lucros cada vez maiores nos bolsos espertos
De ainda uns poucos que dinheiro fabricam
Para os bancos que emprestam a quem não tem
Expandem-se negócios com novas moedas surgidas
Escravos de antes tornam-se senhores de agora
Compra-se vende-se de novo a mais valia
Da velha mão de obra sem pão sem teto sem nada
O tempo traz o progresso de estradas e navios
O dinheiro amortece os sentidos e todos o querem
Todos querem dinheiro e tudo o que o dinheiro compra
Por isso se vendem ao banqueiro e ao capitão de indústria
Por isso se vendem aos novos latifundiários
Produz-se riqueza de novo a poucos pertencida
Produz-se pobreza de novo a muitos distribuída
Batei vossas cabeças
Tocai vossas lamúrias
Levantai vossas angústias
Juntai vossos cacos e vergonhas
Gritai palavras de ódio
Marchai sobre os vossos passos
Que de tudo isso de novo precisais
Ó povos do mundo que do mundo que destruístes
Não havíeis eliminado a maldita semente do capitalismo
Que brota sempre do fogo de vossos descuidos e ambições
Lá do fundo bruto de vossos ambíguos corações
22.4.2017
Você pode ouvir esse poema, na voz do autor, neste link de podcast:
https://open.spotify.com/episode/5Rvv6l5yZQw2rwAJPcA2qg?si=ktQHWRAJSwahIl0_kqCR2Q
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