(Foto de Aurelio Becherini - São Paulo antiga, muito antiga)
anda-se pelas ruas
esquivando-se dos carros
anda-se pelas calçadas
esquivando-se de cães
de todos os tamanhos
de todas as carantonhas
levados por frouxas correntes
pelos seus cachorreiros
e mais do que se esquivar dos cães
necessário se torna ter atenção
às sujeiras desses molossos
que seus donos não recolhem
das calçadas por onde passam
maus cachorreiros que não se importam
com nossos pobres narizes e sapatos
também se torna necessário
quando se anda pelas calçadas
esburacadas quase sempre
tomar cuidado com postes e orelhões
objetos esdrúxulos
que de repente surgem
na frente de nossas cabeças
de forma ameaçadora
e no meio de tantos perigos
caminham o velho e a criança
deslizam jovens skatistas
apressados ciclistas
trombadinhas e ladrões
pessoas desconfiadas e os espertalhões
berços à frente de babás e mamães
loucos e músicos
e poetas e escriturários
multidão anônima de gente paulistana
sonhadores todos com tempos mais felizes
olhos abertos acima das nuvens
sob o sempre cinzento céu
à sombra de árvores que caem
por causa de qualquer chuva
à sombra dos arranha-céus
gente que anda apressada
pelas ruas e calçadas
da velha cidade
apenas gente apressada
com ou sem motivo
gente muito apressada
que deixa rastros de vida
pelas velhas calçadas
rastros atrás de si
sem olhos que vejam
o sol atrás do arranha-céu
ou a lua pendurada
na antena parabólica
9.11.2016
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