5 de jun. de 2017

anda-se pelas ruas



(Foto de Aurelio Becherini - São Paulo antiga, muito antiga)




anda-se pelas ruas

esquivando-se dos carros

anda-se pelas calçadas

esquivando-se de cães

de todos os tamanhos

de todas as carantonhas

levados por frouxas correntes

pelos seus cachorreiros

e mais do que se esquivar dos cães

necessário se torna ter atenção

às sujeiras desses molossos

que seus donos não recolhem

das calçadas por onde passam

maus cachorreiros que não se importam

com nossos pobres narizes e sapatos



também se torna necessário

quando se anda pelas calçadas

esburacadas quase sempre

tomar cuidado com postes e orelhões

objetos esdrúxulos

que de repente surgem

na frente de nossas cabeças

de forma ameaçadora



e no meio de tantos perigos

caminham o velho e a criança

deslizam jovens skatistas

apressados ciclistas

trombadinhas e ladrões

pessoas desconfiadas e os espertalhões

berços à frente de babás e mamães

loucos e músicos

e poetas e escriturários

multidão anônima de gente paulistana

sonhadores todos com tempos mais felizes

olhos abertos acima das nuvens

sob o sempre cinzento céu

à sombra de árvores que caem

por causa de qualquer chuva

à sombra dos arranha-céus

gente que anda apressada

pelas ruas e calçadas

da velha cidade

apenas gente apressada

com ou sem motivo

gente muito apressada

que deixa rastros de vida

pelas velhas calçadas

rastros atrás de si

sem olhos que vejam

o sol atrás do arranha-céu

ou a lua pendurada

na antena parabólica


9.11.2016

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