28 de set. de 2017

canção do operário



(Google Search - australia industrial historical)






tenho em mim milhões de sons

sons que podiam compor

sinfonias

concertos

canções

mas não tenho ideia para que serve

a clave de sol



trago em mim milhares de histórias

histórias que poderiam se transformar em

contos

romances

novelas

mas mal assino meu nome completo

na folha de pagamento



carrego dentro de mim sonhos e fantasias mil

sonhos e fantasias que poderiam virar palavras

poemas

sonetos

epopeias

mas minha ilustração literária mal alcança a manchete do dia

no jornal do sindicato



estão dentro de minha mente uma vida inteira de paisagens

paisagens que poderiam se combinar em cores como se fossem

obras-primas

telas surreais

painéis imensos

mas o meu trabalho diário mal permite que maneje pincéis

para pintar paredes de prédios alheios



sei que posso sonhar e ansiar por feitos de artistas

da dança

do circo

dos palcos

mas mal me equilibro em andaimes a erguer torres

que se desfazem nas nuvens



não sou o artesão solitário a suspirar pela lua em noites

de solidão

a pensar e compor obras de imanência e abstração

para gozos alheios e prazeres inconsúteis

tudo quanto faço e refaço na luta diária

é fruto de minhas mãos

e das mãos de meus companheiros

formigas do humano formigueiro o meu trabalho

vira o que você vê

o que você consome

o que você usa

o que você bebe e come

quando somos mãos multiplicadas no formigueiro



sozinho sou folha ao vento que a brisa leva

para os desertos do mundo

meus braços

minhas pernas

minha cabeça

minha vontade

só ganham força e força tremenda

quando com outros braços e outras pernas e outras cabeças e outras vontades

compomos todos

sinfonias

epopeias

obras de arte

de todos os gêneros para todos os gostos para todos os seres

quando com outros braços e outras pernas e outras cabeças e outras vontades

construo templos e palácios

ergo palafitas e cidades

desvio rios

contenho os oceanos

recomponho o mundo

na ordem do desejo

e então eu sou o titã

eu e meus companheiros somos as mãos os pés as cabeças as vontades

somos toda a força que os deuses tiveram

e então eu sou o que pode mudar o mundo


28.8.2017





Você pode ouvir esse poema, na voz do autor - ISAIAS EDSON SIDNEY - neste endereço de podcast:

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