24 de set. de 2017

maio



(Odd moon - a. não identificado)




com luas cheias e outras luas maio caminha lento por manhãs de frio

e a chuva fina adelgaça o horizonte em cinza de tons fechados

a cabeça do homem descansa sobre tablados de insanidade

entre refolhos de esgoto imundo a sujar os rios do planalto

não vence ao medo a vontade de partilhar ações e comunhões

os abraços apertam panos pútridos pendidos de pavilhões pretos

os presos soltam pipas e as pipas não soltam os presos

imaginam-se lentas melodias e melopeias melosas em maio

a lua cheia em plenos poderes de deuses mortos adormece

na manhã de outono quase inverno o vento levanta saias

os sábios decretam leis e os legisladores propõem enigmas

não cantam pássaros nas folhagens negras e sapos pululam

em cantorias nos brejos de todas as almas assustadas

luas e luas cheias e brandas marcam o destino do maio lento

não desabam tempestades mas uma chuva fina e sem fim

sobre cabeças cortadas levadas em cortejo nos tablados insanos

procissões de rotos e rotundos roubadores entoam melopeias

de eras passadas e longas noites de pranto e barbárie

pende da ponta da lança a orelha surda de cada guerreiro

na busca do graal da lua cheia no maio lento em lúcida manhã

faça-se enfim a guerra que maio não defende a paz nem a luz

e os homens não são nem anjos nem demônios apenas bárbaros

a buscar a pedra filosofal de sua inútil espera por dias melhores


5.5.2017

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