na minha cama (onde passo mais tempo
lendo
pensando
escrevendo)
há falta de corpos e concretudes
nela viajo os meus sonhos
atormento os meus demônios
controlo os meus ímpetos
há em seu longo acolhimento o espanto
de margaridas e hortênsias orvalhadas
há caminhos e desencontros
de antigos desejos e futuros anseios
sons de ventos que sopram de geleiras
e o arrulhar de aves em volta de barcos naufragados
confesso entre lençóis sujos de sêmen
velhas antropologias autofágicas
e resumo meus desencantos em linhas tortas
de versos sem espanto e sem destino
aos quais entrego o sono e os sonhos
de vidas que não vivi
na minha cama (onde me refestelo
em leituras oníricas
em pensamentos torpes
em versos incriados)
o vento não dói quando perpassa
pelas feridas não cicatrizadas da solidão da vida
3.8.20128
(Ilustração: Pauline Zenk - Man on bed in Tanger)
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