se não quer ver
não olhe
se não gosta
não prove
escrevo o que sinto e como todo poeta
nem sempre sinto tudo o que escrevo
mas é assim mesmo meio torta e sincera
a minha poesia se é que versos tortos
possam ser chamados e tratados de poesia
palavras que uso porque não tenho medo
não tenho não tenho não tenho não tenho
não tenho medo de palavras grandes ou pequenas
saem dos meus dedos para as teclas do computador
águas quentes de vulcões extintos em erupções
líquidas e valentes a queimar bocas e gargantas
e se não lhes aprazem que se fodam você e o mundo
não nasci para pedir desculpas por aquilo que digo
entenda como quiser e não me torre o saco
já tão cheio de desgraças da vida e de misérias
vou-me agora preocupar com as palavras que
escorrem mel e fel nas fendas de grutas escuras
dos malfadados estúpidos medrosos da letra
saiam todos eles dos esconsos abismos do medo
e vejam a morte que ronda os buchos vazios
de multidões maltrapilhas e fodidas e esqueça
esqueça que escrevo em meus versos boceta
ou vagina ou cu ou qualquer outra merda
que o tempo de trevas que sempre houve
não esgarça a sombra terrível que se espalha
quando você se preocupa com meus versos
que são sim versos porque os considero versos
e se versos não fossem que sejam pelo menos
o grito de palavrões incontidos e ressentidos
contra todos os moralistas desse mundo maldito
25.3.2018
(Ilustração: escultura de Liu Xue)
Nenhum comentário:
Postar um comentário