grávido de tantos desencantos
rumino os cantos à luz que virá
das profundezas e estreitezas
de minhas vísceras dilaceradas
não há bolsas nem bolhas atrás do muro
apenas os gritos e arrepios de auroras
sempre esperadas e nunca desejadas
o buliçoso estremecer de asas toscas
como se essa gravidez de desencantos
precisasse do desesperado acolhimento
de braços verdes e de raízes profundas
para alçar do ventre ao espaço o desenlace
antes que virem outros tantos prantos
11.12.2019
(lustração: escultura de Anish Kapoor - Cloud Gate - Chicago)