sei que não se mandam flores às putas
no dia seguinte
um caso a se pensar de falta de sensibilidade
aquela mulher
que lhe abriu as penas por uns dinheiros
que o amou por instantes entre gozos fingidos
que se torceu sob seu corpo como se você
velho feio e barrigudo – muitas vezes –
jovem afoito e fedido – outras tantas –
fosse um adônis grego com pau de ator pornô
não lhe fez – é claro – nenhum favor
mas fez de você naqueles instantes
aquilo que você esconde de todo mundo
o ser carente e necessitado do afago comprado
para preencher seus abismos de inumanidade
então – cara – mande flores à puta
que você teve em seus braços no dia anterior
e encha seu quarto de um perfume que ela
- mulher como todas as outras – precisa
para afastar a solidão de ter todos os homens
e acordar sozinha no meio da tarde para lavar
a fronha e o lençol sujos de rímel e de pelos profanos
5.2.2020
(Ilustração: Konstantin Somov - nude among the flowers)
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