25 de mar. de 2020

gatas pardas




pelas noites frias

em boates quentes

as gatas pardas em vestidos de seda

longos decotes

sulcos profundos

ronronam frases de sedução

sentadas em bancos altos de balcões espelhados

uma das mãos de unhas longas

acaricia sobre as calças caras os paus quase duros

de clientes ricos e carteiras recheadas

leva aos lábios a outra mão

os copos longos de chá-mate

com rodelas de limão e muito gelo

cobrado do otário como uísque importado

são gatas de cheiro doce e voz envolvente

de pernas longas e bocetas de ouro

pelo macio para gozos fáceis

lábios vermelhos para boquetes rápidos

bundas redondas para mãos ansiosas

ventres lisos para gozos profundos

solidárias felinas na arte do cio falso e dos amores lunares

escorregadias fêmeas a qualquer domínio

sabem o que querem e nunca querem aquilo que sabem

guardam dólares nas botas longas

deixam para trás calcinhas de lembrança

esgueiram-se depois pelas ruas escuras

ou telhados vazados

para dormirem em qualquer canto

lambido o pelo

recolhidas as unhas

desbotadas as bocas

gatas pardas das noites frias em boates quentes

felinas múltiplas de cores várias

lambendo a prole em dias claros

vivendo à toa pelos becos sujos

suas vidas tortas de gatas caseiras



18.2.2020


(Ilustração: Alfedo López - en toute conscience)






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