o sonho termina na beira do leito
de lençóis não amarfanhados
soçobra nas trevas do olhar perdido
entre destroços de páginas de poetas loucos
suicida-se o sonho
quando o cuspe amargo respinga
nos pés tortos de caminhadas inúteis
e depois que o sonho desvanece
restam sombras de projetos e pontes destruídas
veios de ouro em igrejas barrocas
pétalas de asas de anjos despossuídos
sob chuvas ácidas nos campos de trigo
fica o grito enjaulado no olho do gato
fica o susto enrustido nos passos do lobisomem
e a lua cheia enevoa-se em desejos desesperados
o sonho é assim
um pouco de loucura
numa selva de brancura
28.1.2020
(Ilustração: escultura de Camille Claudel - Femme accroupie)
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