12 de mai. de 2020

o sonho é assim



o sonho termina na beira do leito

de lençóis não amarfanhados

soçobra nas trevas do olhar perdido

entre destroços de páginas de poetas loucos

suicida-se o sonho

quando o cuspe amargo respinga

nos pés tortos de caminhadas inúteis

e depois que o sonho desvanece

restam sombras de projetos e pontes destruídas

veios de ouro em igrejas barrocas

pétalas de asas de anjos despossuídos



sob chuvas ácidas nos campos de trigo

fica o grito enjaulado no olho do gato

fica o susto enrustido nos passos do lobisomem

e a lua cheia enevoa-se em desejos desesperados



o sonho é assim

um pouco de loucura

numa selva de brancura 





28.1.2020


(Ilustração: escultura de Camille Claudel - Femme accroupie)

Nenhum comentário:

Postar um comentário