30 de mai. de 2020

poesia




civilizam-se os humanos

pela arte

de todos os ódios e de todos os danos

só pelas alturas do criar deixa à parte

os medos e os fantasmas da tormenta



pela arte

se fazem os humanos menos cruéis

voa em asas embora frágeis e pequenas

pela aventura que se intenta

testemunhas imperfeitas porém fiéis

de ascensões de ícaros em busca do sol

certos de que da arte a cera que liga suas penas

levá-los-á ao arrebol

entre nuvens e sentindo apenas

o vento entre suas artérias e ossos



soltarão os humanos para o mar a arrogância

deixarão para trás toda a ganância

e toda a falsidade

verão então surgindo dos poços

nua e dadivosa a verdade



e essa verdade trombeteará para o mundo

o pensamento mais profundo

– a mensagem

que de todas artes a mais pura porque entretecida

nos fios de ouro da liberdade e da libertinagem

aquela que mais aproxima o ser humano

da filosofia

e da compreensão da vida

– é a poesia





27.2.2020


(Ilustração: Roberto Matta, “À beira de um sonho”)


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