21 de ago. de 2020

carne morta

 




não que me importe se minha voz não importa

se escrevo versos sobre a carne que palpita

entre as coxas da mulher amada

é que não quero falar de carne morta

nem da angústia de cada dia



se a minha porta para a vida está fechada

eu queria que ficasse lá fora a minha agonia

e entrasse pela janela com o vento do inverno

só o cheiro de gozos e de alegria

não a lenta solidão que nos traz esse inferno

que é olhar o vazio que aumenta dia a dia



por isso é que para mim o que importa

é escrever sobre desejos de beijos e abraços

em vez de esgotar-me em cansaços

a falar de tanta – tanta – carne morta



17.7.2020

(Ilustração: Clovis Trouille, My Grave, 1947)

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