não que me importe se minha voz não importa
se escrevo versos sobre a carne que palpita
entre as coxas da mulher amada
é que não quero falar de carne morta
nem da angústia de cada dia
se a minha porta para a vida está fechada
eu queria que ficasse lá fora a minha agonia
e entrasse pela janela com o vento do inverno
só o cheiro de gozos e de alegria
não a lenta solidão que nos traz esse inferno
que é olhar o vazio que aumenta dia a dia
por isso é que para mim o que importa
é escrever sobre desejos de beijos e abraços
em vez de esgotar-me em cansaços
a falar de tanta – tanta – carne morta
17.7.2020
(Ilustração: Clovis Trouille, My Grave, 1947)
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