4 de ago. de 2020

arroubos




tenho arroubos de fernando pessoa

e às vezes tento ser o poeta lusitano

tenho arroubos de simplicidade

e escrevo falsos versos como manoel de barros

tenho arroubos de nostalgia

e copio a poesia de álvares de azevedo

tenho às vezes arroubos de morte

e desafio a sorte como augusto dos anjos

sou às vezes nordestino do recife

cantando à moda de manuel bandeira

sou também muito mineiro como drummond

carioca como vinícius de moraes

parnasiano – gongórico – clássico e neoclássico

e até moderno e concretista e mesmo pós moderno

(se é que tudo isso tenha algum significado)

viajo em metáforas e rimas tantas pelas asas da imaginação

e povoo-me de versos tantos e tantos poetas

que às vezes nem sei bem se nesses meus arroubos

sou eu que faço uma poesia qualquer

ou se – como um palhaço ladrão de mulher -

apenas pratico por aí muitos e muitos poéticos roubos



16.6.2020 


(Edouard Manet - portrait of Mallarmé)


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