há noites que são noites porque escurecem
há noites que são noites porque apodrecem
pelo tempo do desejo naufraga o espanto
solstícios de esperanças não mais apetecem
há noites que são noites porque padecem
do amplo espectro perdido da resistência
não há esperança onde tudo o que ainda resta
são despojos de beijos que nunca foram dados
submissas aos ventos de malícias e de fraquezas
são nossas as noites que gestam pérolas
são nossas as noites que se escondem em nós
e teus desejos se multiplicam em gozos loucos
faz o tempo que se desfaz em ondas aos poucos
na entrega das esquinas esconde-se o medo atroz
de que nas noites em que viajas não te encontras
e quando te vislumbro estás perdida pelas estrelas
como se fossem estradas todas essas ruas tortas
por onde vagas pelas tuas e minhas esperanças mortas
3.4.2020
(Ilustração: Edvard Munch - evening melancholy-1896)