erotizo a lembrança do teu rosto
erotizo a saudade do teu corpo
de teus seios
de teu ventre
erotizo o tempo que ficamos sem nos ver
e todas essas estranhas nuvens de desejo que perpassam
levando as chuvas da paixão para os páramos desertos
erotizo teu beijo em meu rosto quando te despediste de mim
e o teu riso safado quando te viraste para me mostrar a bunda
sob garoa ou sol ardente erotizo o tempo a que nos habituamos
nos esconsos de quartos escuros o ar pesado de nosso desejo
cobre nossos corpos nus e despe nossas indiferenças
erotizo o sopro de brisa do ar condicionado e a cama desfeita
a água que escorre de teu corpo e molha minha língua molhada de teus humores
banham-nos no exíguo do tempo e do espaço
no eterno momento dos nossos gozos esses suores e humores de eras perdidas
banham-nos em áurea luz de tardes em campos de girassóis
e erotizo o teu riso
perdido entre tuas coxas o meu estremecimento de encontros e desencontros
sim
erotizo tuas lembranças de tempos de outrora no aqui e agora
quando tu não estás a tanger como lira a minha vara
pastora de rebanhos indóceis
erotizo tuas lembranças e erotizo a vida
porque a vida sem erotismo não vale a pena ser vivida
18.8.2020
(Ilustração: Alyssa Monks)
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