22 de set. de 2020

eros

 



erotizo a lembrança do teu rosto

erotizo a saudade do teu corpo

de teus seios

de teu ventre

erotizo o tempo que ficamos sem nos ver

e todas essas estranhas nuvens de desejo que perpassam

levando as chuvas da paixão para os páramos desertos

erotizo teu beijo em meu rosto quando te despediste de mim

e o teu riso safado quando te viraste para me mostrar a bunda



sob garoa ou sol ardente erotizo o tempo a que nos habituamos

nos esconsos de quartos escuros o ar pesado de nosso desejo

cobre nossos corpos nus e despe nossas indiferenças

erotizo o sopro de brisa do ar condicionado e a cama desfeita

a água que escorre de teu corpo e molha minha língua molhada de teus humores



banham-nos no exíguo do tempo e do espaço

no eterno momento dos nossos gozos esses suores e humores de eras perdidas

banham-nos em áurea luz de tardes em campos de girassóis

e erotizo o teu riso

perdido entre tuas coxas o meu estremecimento de encontros e desencontros



sim

erotizo tuas lembranças de tempos de outrora no aqui e agora

quando tu não estás a tanger como lira a minha vara

pastora de rebanhos indóceis

erotizo tuas lembranças e erotizo a vida

porque a vida sem erotismo não vale a pena ser vivida



18.8.2020 

(Ilustração: Alyssa Monks)

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário