24 de set. de 2020

esperanças mortas


 

há noites que são noites porque escurecem 

há noites que são noites porque apodrecem



pelo tempo do desejo naufraga o espanto

solstícios de esperanças não mais apetecem



há noites que são noites porque padecem

do amplo espectro perdido da resistência

não há esperança onde tudo o que ainda resta

são despojos de beijos que nunca foram dados



submissas aos ventos de malícias e de fraquezas

são nossas as noites que gestam pérolas

são nossas as noites que se escondem em nós

e teus desejos se multiplicam em gozos loucos



faz o tempo que se desfaz em ondas aos poucos

na entrega das esquinas esconde-se o medo atroz

de que nas noites em que viajas não te encontras

e quando te vislumbro estás perdida pelas estrelas

como se fossem estradas todas essas ruas tortas

por onde vagas pelas tuas e minhas esperanças mortas





3.4.2020 

(Ilustração: Edvard Munch - evening melancholy-1896)



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