6 de nov. de 2020

meu lago

 




o lago - quando leio o longo lamento de lamartine

deságua em mim o adagietto de mahler

e cavo memórias de eu menino

mais sábio outrora do que sou agora

asas ao vento o passo lento no meio do mato

da praça - perdido em pensamentos e sonhos

encachoeiradas melopeias mineiras

à luz de estrelas de noites insones

à sombra do arvoredo projetada

no piso de pedra pela luz da lua

o outono aos poucos esfriando os ossos

arrepiando a pele o traço de espanto

o chumbo do silêncio sobre os ombros

curvando-me a fronte para o futuro

sem saber e já talvez sabendo

que ali adiante na curva da rua

fantasmas de desejos e anseios agoniados

esticavam seus olhos negros à luz da lua

para me dizerem que nunca seriam realizados

e agora que choro como o poeta

o meu lago lento de ondas congeladas

consola-me o espanto de haver vivido

e agasalha-me o espectro do sonho perdido



21.8.2020

(Ilustração: praça Dr. Jorge - Lavras/MG)


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