o lago - quando leio o longo lamento de lamartine
deságua em mim o adagietto de mahler
e cavo memórias de eu menino
mais sábio outrora do que sou agora
asas ao vento o passo lento no meio do mato
da praça - perdido em pensamentos e sonhos
encachoeiradas melopeias mineiras
à luz de estrelas de noites insones
à sombra do arvoredo projetada
no piso de pedra pela luz da lua
o outono aos poucos esfriando os ossos
arrepiando a pele o traço de espanto
o chumbo do silêncio sobre os ombros
curvando-me a fronte para o futuro
sem saber e já talvez sabendo
que ali adiante na curva da rua
fantasmas de desejos e anseios agoniados
esticavam seus olhos negros à luz da lua
para me dizerem que nunca seriam realizados
e agora que choro como o poeta
o meu lago lento de ondas congeladas
consola-me o espanto de haver vivido
e agasalha-me o espectro do sonho perdido
21.8.2020
(Ilustração: praça Dr. Jorge - Lavras/MG)
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