16 de nov. de 2020

no silêncio dos meus olhos

 





despe-te silenciosamente

deixa que as chamas de teus seios

inflamem olhos alheios



despe-te sem resistências nem relutâncias

deixa que teu ventre se abra

aos beijos notívagos

despe-te sem quaisquer receios

e deixa que te comam assim

ninfa ou deusa dos mares nascida

cansada hetaira de noites insones

ou apenas santa exposta aos sacrifícios

da comunhão de bênçãos e silícios



abre do teu corpo todas as fronteiras

deságua dos teus olhos todas as complacências

entrega teus desejos aos que te desejam

sê puta na cama redonda sob luzes roxas

sê santa arrependida nos orgasmos de beijos gregos

sê tu mesma em todos os espasmos

que os mares revoltos de teus olhos provoquem



silencia o pio da coruja no bailado dos teus passos

e vem pela noite em asas de cetim

para morrer em meus braços e renascer

deusa eterna a despir-se só para mim

no silêncio das estrelas dos meus olhos 





8.7.2020

(Ilustração: Armand Rassenfosse (1862-1934), 
Illustration pour La Femme et le Pantin de Pierre Louÿs - 1898)


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