madrugada três horas e três minutos
a cidade dorme o poeta escreve
escreve sobre o fantasma que flutua
pelo quarto branco ao som das harpas
o fantasma que aperta o peito do poeta
e leva-o para o reino das amarras perdidas
onde o vento debrua de cores o horizonte
fazendo nascer manhãs de asas partidas
manhãs que não voam pelas janelas fechadas
madrugada três horas e quinze minutos
a cidade é folha caída não levada pelo vento
sem estrelas o céu e sem luas o quarto branco
o poeta finge saudades de tempos não vividos
levado pelas asas frágeis da torpe insônia
deixa doer o peito e dome de olhos abertos
sopra o vento penas de aves de rapina
flutua o fantasma ao som das harpas
fechada aos sonhos e esperanças a noite branca
30.6.2020
(Ilustração> Bazille - L'Ambulance improvisée, 1865)
Nenhum comentário:
Postar um comentário