18 de nov. de 2020

noite branca

 





madrugada três horas e três minutos

a cidade dorme o poeta escreve

escreve sobre o fantasma que flutua

pelo quarto branco ao som das harpas

o fantasma que aperta o peito do poeta

e leva-o para o reino das amarras perdidas

onde o vento debrua de cores o horizonte

fazendo nascer manhãs de asas partidas

manhãs que não voam pelas janelas fechadas



madrugada três horas e quinze minutos

a cidade é folha caída não levada pelo vento

sem estrelas o céu e sem luas o quarto branco

o poeta finge saudades de tempos não vividos

levado pelas asas frágeis da torpe insônia

deixa doer o peito e dome de olhos abertos

sopra o vento penas de aves de rapina

flutua o fantasma ao som das harpas

fechada aos sonhos e esperanças a noite branca 




30.6.2020

(Ilustração> Bazille - L'Ambulance improvisée, 1865)

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