vejo-me em sonhos de noites frias
a caminhar caminhos de montanhas de lua
os passos lentos a quebrar folhas secas
a ferirem-se os pés nas pedras das quebradas
o vento em meu rosto em pleno agosto
tortuosos os caminhos e descaminhos
como a vida que caminha para o alto
o céu de bronze com poucas nuvens
a cabeça vazia de pensamentos e desejos
só a montanha e os passos lentos
as folhas secas estalam a cada passo
pedregulhos rolam às vezes pelo abismo
caminho não pensando em ti não pensando em nada
vou pela montanha acima como se melíflua entidade
a caminhar pela vida sem saber que não há caminhos
sem saber que tudo quanto caminhei até agora sabe a mofo
e de repente o silêncio pesado e morto como se o vento
não mais soprasse e não mais meus passos pesassem
não sei se esse silêncio assim tão de repente no caminho
é apenas a impressão que carrego de meus pesadelos
ou a ponta de areia que leva ao alto onde não há nada
nada além da paisagem que se contempla enfim
quando nossos passos deixam atrás nosso último rastro
5.11.2020
(Ilustração: Camille Pissarro: A Cowherd on the Route de Chou-Pontoise)
Que lindo, vejo as imagens.... Parabéns Isaias.
ResponderExcluirQue lindo, vejo as imagens.... Parabéns Isaias.
ResponderExcluir