quando baixa aquela tristeza
roendo por dentro qualquer horizonte
empoçando o pensamento na depressão
fazer o quê?
sofrer em silêncio ou falar pelos cotovelos
numa sala asséptica deitado
como morto-vivo num divã?
retorcer as tripas até que o coração
transborde bílis e rancores
num vômito fétido de autocomiseração?
fechar as janelas à luz da aurora
encaracolar-se no desespero
e mergulhar no gelo da bebida que queima
para beber depois as lágrimas de fel?
beijar o pó da estrada ao crepúsculo
e maldizer as estrelas que brilham
que brilham só para outros e assim afundar
no rio da noite de todos os desesperados?
nada disso fará de ti o mergulhador
que reservou nos pulmões um pouco de ar
para enfrentar a subida e sobreviver
somente na poesia e na filosofia
encontrarás a paz do teu ser
com a completude e a compreensão
do que são as estrelas no céu
do que são os vermes nas profundezas da terra
somente na filosofia e na poesia
11.12.2020
(Ilustração: Luis Ricardo Falero)
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