jogar-se ao desamparo dos precipícios
apertar cada vez mais forte os cilícios
deixar que se queimem todas as pontes
assistir sem nada fazer ao secar das fontes
marcar o passo na areia quente do deserto
pensar que a vida pertence ao mais esperto
esconder-se do vento depois de beijar a lona
parir nos becos sujos como cadela sem dona
consertar as horas loucas com luvas de borracha
esperar o escarro e a palavra que te escracha
pensar no passado como o tempo da inocência
buscar no poema sem eira nem beira a coerência
atar o passo do pobre à marcha da nobreza
sonhar que os estúpidos criem alguma beleza
são todos esses e cada um o teu suplício e o teu precipício
que se renovam a cada segundo em um eterno reinício
28.12.2020
(Ilustração: Zdzisław Beksiński)
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