porém felicidade não se compra na farmácia
- foi quando pulava a amarelinha
que a estrela riscada no céu de cimento
brilhou à luz do negro de seus olhos
- passou dias e dias no segredo de um cofre
apertada entre os parafusos dos seus sonhos
- pegou malária na amazônia
no quarup de seus mortos não enterrados
(partícipes todos eles do banquete antropofágico de seus estranhamentos)
- beijou os pés de estátuas de deusas nuas
em cerimônias de fertilidade á luz de falsas luas
e quando enterrou o feto de suas ilusões ao pé do mamoeiro
ouviu cantar o sabiá nas palmeiras do poeta
- recebeu passes da mãe de santo nas rodas de terreiro
pagou o dízimo de sangue ao pastor enlouquecido por dinheiro
rezou missas negras aos demônios todos que prometiam
a luz da fogueira ancestral acesa no fundo do seu poço sem estrelas
e terminou seus dias na camisa de força da bula de um tarja preta
14.2.2021
(Ilustração: escultura de Matt Verginer)
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