deus está lá – sentado no seu trono sobre uma nuvem etérea
rodeado de santos e santas com longas túnicas brancas
e anjos de asinhas sibilantes e nus e belos como retratados por pintores renascentistas
e deus está lá – na sua imensa majestade com a mão apoiada sobre os joelhos
segurando o queixo – pensativo como uma estátua de rodin
pensa no quê?
relembra o quê?
imagina o quê?
com seu olhar perdido no horizonte infinito daquele céu monótono como um concerto de música new age
pensa no seu pau esse deus meditabundo
um pênis escroto e murcho desde a eternidade de todas as eternidades
ali pendente entre as suas pernas – uma coisa inútil
eternamente inútil
já que seu único filho foi concebido na terra por um carpinteiro velho
no ventre de uma virgem
(era também o carpinteiro tão broxa quanto ele
e foi preciso sua intervenção para realizar o milagre da concepção)
- então esse deus meditabundo broxa e ainda por cima corno
pensa
por que criou a si mesmo com um pau no meio das pernas
e nunca viu esse pau com uma bandeira na ponta – e fez mais
deu um pau funcional ao adão no paraíso pensando que
seria só um enfeite para a eva
(que era rachada e ia morrer de inveja –
deus dá uma risadinha marota e cobre a boca com a mão)
e depois deixou que seu adão comesse a eva com esse mesmo pau
que ele não queria que adão usasse mas a eva – essa insidiosa serpente –
alegou que não queria ser virgem para sempre e deu a maçã
- ou melhor – abriu as pernas para o adão que não era bobo e comeu
comeu e se lambuzou e ele – deus – nunca pôde fazer o mesmo
porque pensou que não precisava dessas coisas
que sua escolha por adiar e adiar para sempre o ato
(como fazem esses meninos idiotas de certas seitas)
fosse a coisa certa
e agora está velho demais para essas coisas
e deus relembra
que lá no princípio do mundo havia uma tal lilith
que ele podia ter comido e se lambuzado como adão
ah! mas essa lilith era tão insidiosa como eva e muitos diziam que era um demônio
e então deus imagina
– se ele tivesse tido uma mulher
não – uma só não – muitas – tantas quantas maomé
(aquele profeta fajuto que promete para os seus mártires setenta mil virgens)
e ele teria setenta mil virgens para seus setenta mil dias
a povoar pelo menos um tantinho de tanta eternidade perdida
e deus imagina
– o céu todo povoado de filhos seus
todos eles eternos e todos eles deuses – a infernizar
(oh meu deus – ele tapa a boca para esconder um riso)
todas essas santas que andam por aí
escondendo suas perseguidas sob mantos imaculados – mas eu sei
(e deus mais uma vez tapa a boca para esconder um sorriso matreiro)
- eu sei que elas todas de vez em quando se escondem atrás de uma nuvem
(o céu não tem moita – e deus ri agora às bandeiras despregadas)
para catar um desses santos e mártires até mesmo os filhos do maomé
e deus de repente para e pensa
- porra! teria centenas
talvez milhares – uma infinita horda de pretendentes ao meu trono
e isso – caralho! – seria um inferno
(agora ele não ri – está furibundo)
e deus olha para o infinito
olha para o céu infinito
olha para toda a sua criação
e pensa
– melhor um deus broxa que um deus mergulhado numa guerra de sucessão
- teria que contratar um coach
e isso seria pior que ser broxa a suprema humilhação
10.9.2021
(Ilustração: escultura de Lilith como serpente
- fachada da catedral de Notre Dame de Paris)
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