deus descansava e contemplava sua tarefa
havia feito um mundo especial – uma experiência para o universo
um mundo cheio de água
plantas
animais
de vida enfim
e lá colocara duas criaturas que – diziam as más línguas – eram sua imagem e semelhança
e deus descansava
enquanto lá no mundo a eva se masturbava
e o adão flanava
(gazela entre gazelas entre flores e animais e lagos – um paraíso
belo – de perder o juízo)
e deus descansava
e não vigiava
satisfeito estava
e o mundo girava
e a eva se masturbava
e deus pensava
e de olhos abertos sonhava
e não vigiava
e a eva enfim gozava
e uma serpente lá embaixo serpenteava
e para a eva falava
(nem deus imaginava
que serpente falava)
que solitário o prazer não prestava
e deus para o infinito olhava
e a serpente à eva explicava
que o adão era meio bicha e afescalhado mas eva precisava
não de dedos mas da cobra que ele tinha dependurada
que era essa a cobra desejada
que bem usada
a história do mundo mudava
e deus lá em cima satisfeito suspirava
e a eva depois de gozar com fome mastigava
uma doce maçã
ouviu a serpente e pensou olhando a pequena flor em botão
que vermelha ainda vibrava
– por que não?
amanhã de manhã pego de jeito esse adão
mostro para ele o meu botão
e boto pra fumar a cobra que a cobra
disse que ele tem dependurada
e deus verá para sempre mudada
a história de sua obra
[lá no céu sereno deus de nada desconfiava
e sorrindo feliz o seu mundo de paz abençoava]
13.9.2021
(Ilustração: Carlos Barahona Possollo)
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