o tango escorre pelas coxas nuas da bailarina
suspensa no ar pelas mãos do macho argentino
indiferente à fluidez de seus movimentos
eletricidade pura percorre o palco iluminado
tocado pela indiferença fingida e forçada do macho argentino
suas mãos conhecem o caminho que conduz para as estrelas
o fogo de dezenas de olhos acesos pelas ondas do bandoneón
que um bruxo vindo das profundezas de tempos mágicos
abraça ao peito com o fervor que os amantes da bailarina
acariciariam seus seios palpitantes
se ela – a bailarina – não alçasse o voo das palomas de buenos aires
no palco o vento emudece
no palco o espaço vencido recurva-se em ondas
a bailarina e seu parceiro transcendem as nuvens
macho e fêmea em comunhão com o compasso elétrico do tango
e a plateia pisca para as estrelas enquanto aguarda em suspenso
que o bruxo faça do staccato o último murmúrio da terra
2.10.2021
(Ilustração: Leonid Afremov - girl in black)
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