os meus olhos – trago-os pra a frente do mundo
para que ao mundo me levem as lágrimas
há em cada gota que cai desses meus olhos
o sentimento de que há no mundo somente aquilo com que se faz o sofrimento do mundo
almas vazias que povoam os espaços vazios
átomos divisíveis em subpartículas a flutuar
no unir-se e separar-se infinitamente
fogos-fátuos de cemitérios oníricos
esse o mundo que aos meus olhos se revela
quando os levo e os carrego para o centro da vida
essa vida a que um dia o poeta chamou de sonho
esse sonho que eu penso que pode ser vida
trocados os miúdos pelos graúdos
é tudo o resumo de átomos a se entrechocarem no fundo de buracos negros
o universo todo contido na gota de lágrima dos meus olhos
e os meus olhos são só espelho de mim mesmo querendo ser todo o universo
não há metafísica que resiste aos átomos
não há deuses que sobrevivam ao vazio
leva – leva também os teus olhos
ó ser inominado no picadeiro das constelações
leva os teus olhos para o profundo infinito do universo
e lá encontrarás o começo de tudo
ou talvez o fim
30.7.2022
(Ilustração: escultura de Luo Li Rong)
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