não quero mais escrever sobre o tempo
digo – e o tempo vem e me devora
e toda vez que tento
trazer os dias passados para o agora
desenterro os fantasmas que vêm comigo
vivos, os fantasmas – vivas e doloridas, as lembranças
por mais que deseje e me esforce nunca consigo
renovar todas as minhas esperanças
porque olho para ti e vejo que não pude
estender o tempo e todas as suas temperanças
para trazer de volta a nossa juventude
os dias passados – fantasmas que eu recupero
devoram-me a carne já no corpo quase apodrecida
mostram-me a ruína que eu sou e que tu és nesse entrevero
quando tudo o que restou para nós é essa merda de vida
22.11.2021
(Ilustração: Hannah Höch)
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