os amores tranquilos
não expostos aos vendavais da vida
passam como a brisa
não marcam nossa mente
com os estilhaços das tempestades
não escarificam nossa pele
com os espinhos de roseiras mortas
os amores sofrem humores
mudanças bruscas de temperatura e pressão
queimam as pontes e as reconstroem
com os destroços de corações deixados pelos caminhos
é preciso viver pelo menos uma vez os amores sísmicos
que eles apenas são passíveis de nos levar ao nirvana do prazer
deixam traumas
deixam mundos e fundos de desespero
deixam cicatrizes indeléveis
desenterram de nossas profundezas as flores mais putrefatas
mas escondem nas raízes os perfumes mais delicados
os amores tempestuosos
são pentes de osso
a desembaraçar sentimentos que se soltam aos ventos
deixam rastros de destruição
sim
deixam sequelas até para vidas futuras se as tivermos
no entanto
se não vivemos e sofremos
uma vez sequer
os amores tempestuosos
a vida fica um mar sem ondas
primavera sem perfume
agosto sem vento
dança sem batuque
doce sem açúcar
31.7.2023
(Ilustração: escultura de Bernini: o rapto de Prosérpina)
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