18 de nov. de 2023

amores tempestuosos

 






os amores tranquilos

não expostos aos vendavais da vida

passam como a brisa

não marcam nossa mente

com os estilhaços das tempestades

não escarificam nossa pele

com os espinhos de roseiras mortas



os amores sofrem humores

mudanças bruscas de temperatura e pressão

queimam as pontes e as reconstroem

com os destroços de corações deixados pelos caminhos



é preciso viver pelo menos uma vez os amores sísmicos

que eles apenas são passíveis de nos levar ao nirvana do prazer

deixam traumas

deixam mundos e fundos de desespero

deixam cicatrizes indeléveis

desenterram de nossas profundezas as flores mais putrefatas

mas escondem nas raízes os perfumes mais delicados



os amores tempestuosos

são pentes de osso

a desembaraçar sentimentos que se soltam aos ventos



deixam rastros de destruição

sim

deixam sequelas até para vidas futuras se as tivermos

no entanto

se não vivemos e sofremos

uma vez sequer

os amores tempestuosos

a vida fica um mar sem ondas

primavera sem perfume

agosto sem vento

dança sem batuque

doce sem açúcar



31.7.2023

(Ilustração: escultura de Bernini: o rapto de Prosérpina)



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