6 de jun. de 2024

eu, robô?

 




raqueaste-me os neurônios

para eu gostar de ti

comprei uma bomba atômica de bites e baites

e te explodi



raqueaste-me de novo os neurônios

para que eu odiasse o que amava

e amasse o que eu odiava

amassei mil pétalas de rosas e de seu perfume extraí

a gota de cheiro com que te feri



levaste-me para tua realidade virtual

onde em teus delírios me enrolaste

dancei a dança ancestral

e a tela azul dos teus íons eu rompi



sugaste-me

para

tua

realidade

virtual aumentada



sentei-me no sofá [que não havia]

no meio da minha sala [que também não existia]

e com uma só gargalhada

riscada no céu como uma bala

a tua bolha explodi



jogaste enfim tua última cartada

de teu cérebro perverso

e atraíste-me para o teu

metaverso

onde eu passei a viver e até parecia feliz

mesmo que fosse meio troncho meu caríssimo avatar



ele/eu participamos de festas – transamos e gozamos

muitos outros amigos abraçamos e beijamos

pelos campos eu corri

pelos campos ele correu

muitas flores eu colhi

muitas flores ele colheu

e das caminhadas que fizemos – eu e ele/ele e eu

– tantas eu fiz e refiz

que na minha velha e carcomida desconfiança tropecei

- olhei para traz e morri

ou foi ele quem morreu?



vi-me sem eira nem beira na velha vida que sempre vivi

e para ti – meu ráquer de araque – eu, robô? – sorri





25.4.2022

(Ilustração: H. R. Giger - Necronom V, 1976)





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