raqueaste-me os neurônios
para eu gostar de ti
comprei uma bomba atômica de bites e baites
e te explodi
raqueaste-me de novo os neurônios
para que eu odiasse o que amava
e amasse o que eu odiava
amassei mil pétalas de rosas e de seu perfume extraí
a gota de cheiro com que te feri
levaste-me para tua realidade virtual
onde em teus delírios me enrolaste
dancei a dança ancestral
e a tela azul dos teus íons eu rompi
sugaste-me
para
tua
realidade
virtual aumentada
sentei-me no sofá [que não havia]
no meio da minha sala [que também não existia]
e com uma só gargalhada
riscada no céu como uma bala
a tua bolha explodi
jogaste enfim tua última cartada
de teu cérebro perverso
e atraíste-me para o teu
metaverso
onde eu passei a viver e até parecia feliz
mesmo que fosse meio troncho meu caríssimo avatar
ele/eu participamos de festas – transamos e gozamos
muitos outros amigos abraçamos e beijamos
pelos campos eu corri
pelos campos ele correu
muitas flores eu colhi
muitas flores ele colheu
e das caminhadas que fizemos – eu e ele/ele e eu
– tantas eu fiz e refiz
que na minha velha e carcomida desconfiança tropecei
- olhei para traz e morri
ou foi ele quem morreu?
vi-me sem eira nem beira na velha vida que sempre vivi
e para ti – meu ráquer de araque – eu, robô? – sorri
25.4.2022
(Ilustração: H. R. Giger - Necronom V, 1976)
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