eu poeta ateu
me confesso neste vale lágrimas
não ter um dia sequer
me curvado à face do senhor
eu poeta ateu
me coloco aos pés do altar
da natureza e de tudo que não entendo
para dizer que todas as minhas orações
foram para negar que deus existe
e que a ciência um dia vai explicar
aquilo que é ainda tão incognoscível
eu poeta ateu
me atrevo a dizer que choro às vezes
pensando que bem que podia haver
vida depois da vida
para que eu pudesse abraçar de novo
todo o povo que já amei e já se foi
eu poeta ateu
me penitencio de nunca haver chorado
pelas sentenças de qualquer deus maluco
sigo minha vida em paz
e sonho com um mundo de menos rancores
eu poeta ateu
só peço às forças que atuam dentro de mim
que me deixem cumprir em paz
a trajetória de vida que escolhi
e que não haja túmulo a esperar meu corpo
nem missas a lamentar a alma que não tenho
5.11.2022
(Ilustração: David Mazza - Le chevalier du ciel, 2006)
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