3 de jun. de 2024

eu poeta ateu – choro às vezes

 






eu poeta ateu

me confesso neste vale lágrimas

não ter um dia sequer

me curvado à face do senhor



eu poeta ateu

me coloco aos pés do altar

da natureza e de tudo que não entendo

para dizer que todas as minhas orações

foram para negar que deus existe

e que a ciência um dia vai explicar

aquilo que é ainda tão incognoscível



eu poeta ateu

me atrevo a dizer que choro às vezes

pensando que bem que podia haver

vida depois da vida

para que eu pudesse abraçar de novo

todo o povo que já amei e já se foi



eu poeta ateu

me penitencio de nunca haver chorado

pelas sentenças de qualquer deus maluco

sigo minha vida em paz

e sonho com um mundo de menos rancores



eu poeta ateu

só peço às forças que atuam dentro de mim

que me deixem cumprir em paz

a trajetória de vida que escolhi

e que não haja túmulo a esperar meu corpo

nem missas a lamentar a alma que não tenho





5.11.2022

(Ilustração: David Mazza - Le chevalier du ciel, 2006)

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