vejo e revejo fotos antigas
da cidade onde nasci
da cidade onde vivo
avenidas vazias e casarões embelezados
praças com árvores centenárias
alamedas
cores de meus olhos no preto e branco
brilhos de riquezas
dançando na minha imaginação
o meu tempo era aquele – pergunto-me
e a resposta vem pronta – não
o meu tempo era o antes daquele – volto a perguntar-me
e grito dentro de mim – jamais
pudera eu passar talvez uma noite
uma noite apenas
num tempo remoto
a ver estrelas na escuridão
a ouvir no silêncio o rastejar de cobras
o voo do morcego
o pestanejar da coruja
pudera eu viajar na máquina do tempo
e contemplar a história com meus olhos de espanto
sentir na nuca o vento de batalhas
chorar mortes inúteis por falta de uma aspirina
respirar odores de ruas podres
coser a caça ao fogo lento
andar léguas em busca de água
pudera eu e talvez tantos mais como eu
ver o passado acontecendo como presente
mas viver naquele tempo – jamais
meu tempo é o hoje
e se um tempo pudesse escolher para viver
estaria nascendo agora do ventre da minha filha
para viver o futuro que meus olhos não contemplarão
e um dia olhar para as antigas fotos de hoje
para dizer quase o mesmo que acabo de dizer
- que gostaria de nascer do ventre de uma bisneta
para viver o futuro que meus olhos não contemplarão
24.1.2023
(Iluatração: Clark Cassanti - I saw my future painting)
Você pode ouvir esse texto no seguinte link de podcast:
Nostálgico e lindo! Parabéns
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