15 de jun. de 2024

fotos antigas

 





vejo e revejo fotos antigas

da cidade onde nasci

da cidade onde vivo

avenidas vazias e casarões embelezados

praças com árvores centenárias

alamedas

cores de meus olhos no preto e branco

brilhos de riquezas

dançando na minha imaginação



o meu tempo era aquele – pergunto-me

e a resposta vem pronta – não



o meu tempo era o antes daquele – volto a perguntar-me

e grito dentro de mim – jamais



pudera eu passar talvez uma noite

uma noite apenas

num tempo remoto

a ver estrelas na escuridão

a ouvir no silêncio o rastejar de cobras

o voo do morcego

o pestanejar da coruja



pudera eu viajar na máquina do tempo

e contemplar a história com meus olhos de espanto

sentir na nuca o vento de batalhas

chorar mortes inúteis por falta de uma aspirina

respirar odores de ruas podres

coser a caça ao fogo lento

andar léguas em busca de água

pudera eu e talvez tantos mais como eu

ver o passado acontecendo como presente



mas viver naquele tempo – jamais

meu tempo é o hoje

e se um tempo pudesse escolher para viver

estaria nascendo agora do ventre da minha filha

para viver o futuro que meus olhos não contemplarão



e um dia olhar para as antigas fotos de hoje

para dizer quase o mesmo que acabo de dizer

- que gostaria de nascer do ventre de uma bisneta

para viver o futuro que meus olhos não contemplarão





24.1.2023

(Iluatração: Clark Cassanti - I saw my future painting)



Você pode ouvir esse texto no seguinte link de podcast:

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