mais uma vez outono e mais uma vez é noite
quantas vezes já escrevi que é noite de outono
e que mais uma vez estou só
quando me visita uma longa sombra
não me assusta o seu negror
nem me assusta mais a solidão
divaga minha mente pela noite
[é outono – não que não me esqueça]
em busca de memórias perdidas
numa outra noite há tanto tempo distante
que cobre o pó de uma estranha lembrança
a saudade de uma saudade que já não sinto
sinto apenas nostalgia de uns olhos negros
que um dia polvilharam de esperança
uma estrada que não era para mim
no tempo de outrora
[e era outono]
havia o espanto
dos pés nus
nas pedras do caminho
a caminhada iniciada
tinha olhos à frente
não tinha nenhum objetivo
sábio não sou agora
como nunca fui no passado
corro no entanto
pela estrada deserta
sabendo que tenho de mim
uma pedra negra
bem no meio do caminho
[roubei a pedra do poeta
não roubei sua poesia]
para mais um tropeço
que será talvez o último
e nesta noite de outono repetida
a solidão que me espera
será de invernos cada mais invernosos
28.4.2024
(Ilustração: Thomas Moran, 1837-1926, Autumn)
Nenhum comentário:
Postar um comentário