15 de jul. de 2024

mais uma vez outono

 





mais uma vez outono e mais uma vez é noite

quantas vezes já escrevi que é noite de outono

e que mais uma vez estou só



quando me visita uma longa sombra

não me assusta o seu negror

nem me assusta mais a solidão



divaga minha mente pela noite

[é outono – não que não me esqueça]

em busca de memórias perdidas

numa outra noite há tanto tempo distante

que cobre o pó de uma estranha lembrança

a saudade de uma saudade que já não sinto

sinto apenas nostalgia de uns olhos negros

que um dia polvilharam de esperança

uma estrada que não era para mim



no tempo de outrora

[e era outono]

havia o espanto

dos pés nus

nas pedras do caminho

a caminhada iniciada

tinha olhos à frente

não tinha nenhum objetivo



sábio não sou agora

como nunca fui no passado

corro no entanto

pela estrada deserta

sabendo que tenho de mim

uma pedra negra

bem no meio do caminho

[roubei a pedra do poeta

não roubei sua poesia]

para mais um tropeço

que será talvez o último



e nesta noite de outono repetida

a solidão que me espera

será de invernos cada mais invernosos





28.4.2024

(Ilustração: Thomas Moran, 1837-1926, Autumn)

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