27 de jul. de 2024

Morituri

 




Bate o vento no arvoredo,

Para esconder de mim este segredo:

Por que morreram os que tinham de morrer?



Rola o tempo

Nas asas do vento,

Passam vultos pelos quintais,

E cada vez mais

Eu escondo em minha mente

A resposta que me faz temente:

Por que morreram os que tinham de morrer?



Não sei se choro

Ou apenas deploro

O tempo que reitero

Neste poema insincero

Que não satisfaz minha mente faminta

E faz que eu pressinta

Que o arvoredo que se agita ao vento

É apenas meu grito lançado a esmo,

O grito de angústia em que tento

Responder para mim mesmo:

Por que morreram os que tinham de morrer?



Sei que um dia,

Numa noite ou tarde fria,



(E não posso dizer talvez)

Chegará a minha vez,

[Diz o vento no arvoredo,

O vento que me traz medo],

E eu, que não sei por que vivo,

Direi do alto de minha morte

Que o lamento que cultivo

Não é por azar nem por sorte,

Mas por tudo quanto a vida

Já me fez sofrer.

Como não haverá nada mais a fazer,

Terei a maldita resposta, afinal,

Àquela pergunta fatal:

Morremos todos, porque temos de morrer.





27.6.2024

(Ilustração: Caravaggio)









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