despetalei até a última pétala a rosa vermelha do meu ódio
arranquei e mastiguei com os dentes famintos de cão de rua
daquela flor amarga e triste a corola nua
para sentir-me enfim dono de novo de meus sentimentos
ainda que restasse na boca o gosto que não passará jamais
de que nada posso fazer contra todas as injustiças do mundo
mesmo que meus latidos roucos contra as armas e as guerras
fossem ouvidos não seriam em tempo algum levados em conta
pois a fúria assassina que mora na mente humana
desde tempos imemoriais
cria a cada momento em cada canto do mundo a vontade insana
de destruir e de matar
os deuses que a humanidade criou sempre foram cruéis e assassinos
mas quando todos eles se uniram numa só vontade divina
o rio lates se encheu de cérberos com potentes caninos
para levar a morte e a destruição a toda e qualquer esquina
e nunca mais o ser que se diz humano conseguiu se livrar
dessa sua louca vontade de destruir e matar
quando despetalo em mim a rosa vermelha do meu ódio
sinto-me menos humano e nem por isso mais divino
ao contrário mais me aproximo das alturas de um pódio
onde os predadores afiam suas garras nos troncos
para se alimentar de sangue seu mais puro desatino
e saltam para o buraco negro onde guardam seus roncos
as bestas-feras de duas pernas que povoam toda a terra
as bestas-feras que exaltam as armas e amam a guerra
30.3.2023
(Ilustração: Johannes Hendrikus Moesman - self-portrait)
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