1 de set. de 2024

o deus de baruch espinosa

 

 


despetalei até a última pétala a rosa vermelha do meu ódio

arranquei e mastiguei com os dentes famintos de cão de rua

daquela flor amarga e triste a corola nua

para sentir-me enfim dono de novo de meus sentimentos



ainda que restasse na boca o gosto que não passará jamais

de que nada posso fazer contra todas as injustiças do mundo

mesmo que meus latidos roucos contra as armas e as guerras

fossem ouvidos não seriam em tempo algum levados em conta

pois a fúria assassina que mora na mente humana

desde tempos imemoriais

cria a cada momento em cada canto do mundo a vontade insana

de destruir e de matar



os deuses que a humanidade criou sempre foram cruéis e assassinos

mas quando todos eles se uniram numa só vontade divina

o rio lates se encheu de cérberos com potentes caninos

para levar a morte e a destruição a toda e qualquer esquina

e nunca mais o ser que se diz humano conseguiu se livrar

dessa sua louca vontade de destruir e matar



quando despetalo em mim a rosa vermelha do meu ódio

sinto-me menos humano e nem por isso mais divino

ao contrário mais me aproximo das alturas de um pódio

onde os predadores afiam suas garras nos troncos

para se alimentar de sangue seu mais puro desatino

e saltam para o buraco negro onde guardam seus roncos

as bestas-feras de duas pernas que povoam toda a terra

as bestas-feras que exaltam as armas e amam a guerra





30.3.2023

(Ilustração: Johannes Hendrikus Moesman - self-portrait)







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