será sempre mais belo
o poema que não escrevi
será sempre mais doce
a fruta que não comi
o passo marcado no pó do caminho
não sabe o destino que escolhi
incertezas
apenas incertezas desfolham
cada gesto que o tempo encolheu
penso ser o navio encalhado
o calhau na hélice do futuro
se a rosa que perfuma
cai ao vento da fortuna
permaneço a marca no fundo do rio
imanente é o tempo
– sempre ele –
que tenho para viver
deixo na rosa o sonho
colho do espinho a esperança
– que seja eu o seixo na estrada
– que seja eu o vale que renasce
depois da tempestade
ossos pelo caminho
são o que restou
– não os cobri de lágrimas
e não os quero sob a terra
– testemunhem apenas
– testemunhem –
os poemas que não escrevi
os frutos que não colhi
os destinos que não escolhi
e que não os biquem
os corvos de sempre
10.1.2024
(Ilustração: Andrea Kowch, 1986)
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