15 de ago. de 2011

BRASILIANAS II



(João Ruas)



8. falando de sentinelas,




que todos brinquemos
no grande terreiro



façamos quizomba
soltemos balão
joguemos a bomba
da festa de são joão



riamos
cantemos
choremos
rimemos



façamos a festa
a festa da raça
no grande terreiro



à luz do cruzeiro
riamos e cantemos
ao sol escaldante
pulemos
dancemos



pulando e cantando
te convida à dança
o povo que lança
o grito da festa



embora gigante
moleque ainda és



tu bates os pés
no ritmo faceiro
fazendo com todos
no grande terreiro
a festa constante
da gente inconstante




pulemos
cantemos
em grandes terreiros
o orgulho que temos
de ser brasileiros



mas todos os versos que acima escrevi
são versos de sonho, são versos de louco
à pátria que sonho
não à pátria que vivo



são versos que piram
diante do dia
que mostra dentes podres
em bocas mortas



são versos de alienante loucura
redondilhos de sorte que não cantam a morte
rimas de ouro que buscam o tesouro
há muito espoliado há muito escondido
bem lá no fundo em malditas caravelas




(ainda bem que muitas delas
perdidas estão no fundo dos mares:
quem como louco roubou
também tombou, também tombou)



e o sino de bronze convida a rezar
aos crentes cobertos de noites cristãs
e a igreja barroca escancara seu ventre
ao povo que canta que dança que pula que reza



do tesouro roubado do ventre da terra
do veio de ouro como da veia dos homens
(do sangue dos homens)
somente restou no grande terreiro
o cadáver esturricado da morta esperança
(por isso, aqui me calo)

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