(João Ruas)
8. falando de sentinelas,
que todos brinquemos
no grande terreiro
façamos quizomba
soltemos balão
joguemos a bomba
da festa de são joão
riamos
cantemos
choremos
rimemos
façamos a festa
a festa da raça
no grande terreiro
à luz do cruzeiro
riamos e cantemos
ao sol escaldante
pulemos
dancemos
pulando e cantando
te convida à dança
o povo que lança
o grito da festa
embora gigante
moleque ainda és
tu bates os pés
no ritmo faceiro
fazendo com todos
no grande terreiro
a festa constante
da gente inconstante
pulemos
cantemos
em grandes terreiros
o orgulho que temos
de ser brasileiros
mas todos os versos que acima escrevi
são versos de sonho, são versos de louco
à pátria que sonho
não à pátria que vivo
são versos que piram
diante do dia
que mostra dentes podres
em bocas mortas
são versos de alienante loucura
redondilhos de sorte que não cantam a morte
rimas de ouro que buscam o tesouro
há muito espoliado há muito escondido
bem lá no fundo em malditas caravelas
(ainda bem que muitas delas
perdidas estão no fundo dos mares:
quem como louco roubou
também tombou, também tombou)
e o sino de bronze convida a rezar
aos crentes cobertos de noites cristãs
e a igreja barroca escancara seu ventre
ao povo que canta que dança que pula que reza
do tesouro roubado do ventre da terra
do veio de ouro como da veia dos homens
(do sangue dos homens)
somente restou no grande terreiro
o cadáver esturricado da morta esperança
(por isso, aqui me calo)
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