17 de ago. de 2011

BRASILIANAS - II



(Gianni Strino)



9. falando de ruas,




“tio, me dá um real...



um real, tio, é a vida
é a vida cheirada,
é a vida comida
é a vida enrolada
em papel de jornal
é a vida sem bola
na nóia da cola
um real pelo medo
pintado na cara
um real pelo dedo
que puxa o gatilho
o olho no brilho
o brilho da fome
a fome que come
o brilho da faca
e a faca que vale
um real, tio, um real
e antes que eu fale
da surra do pai
da vida vadia
da vida que eu via
no sangue que cai
do brilho do tiro
do leite que eu tiro
do medo do otário
tio, um real, é tudo
tudo que peço
de todo o salário
que eu ganho e não meço
às vezes exijo
às vezes imploro
mas nunca eu choro
se tenho na arma
o dedo mais rijo
de toda a cidade
que mata quem teme
não sou o que treme
se a fome me invade
sou sempre aquele
que mostra a cara
não foge da rua
a vida não pára
no tiro e no risco
da faca na cara
do medo estampado
atrás da vidraça
no meio da praça
o corpo estirado
um real, meu tio,
e afundo no frio
da nóia do craque
sem medo do baque
sem medo de escuro
que a vida que trago
é o tempo que eu duro
é tempo de estrago
não tenho futuro...”

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