24 de out. de 2016

espreita





(Taro Hata)




confesso que vi

vi e revi e vivi

o instante sublime

fugaz

intempestivo

inusitado

nunca esperado

os meus olhos

espantou-os a visão

e quase

quase

se recusaram a ver

mas vi

vi e olhei e observei

e espreitei

por detrás das folhas

do galho da jabuticabeira

o fruto negro engasgado na boca

eu vi e quase caí

me segurei

me arrepiei

e os pelos de minha virilha

enrijeceram

os meus olhos arregalaram

os meus doze anos pesaram

os galhos da jabuticabeira envergaram

e eu vi e revi e vivi

pela janela aberta

entrando no banho

a moça nuinha

nuinha

nua

eu

vi



15.10.2016


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