(Érika Cardoso - Mama África)
não sou negro
a minha pele é que é negra
não sou branco
a minha pele é que é branca
não sou amarelo
a minha pele é que é amarela
branco negro amarelo
e mil outros tons tem a pele
de gente que nasceu e vive
sob sol escaldante
entre borrascas e brumas nevosas
em climas de trópicos chuvosos
de gente que mora
em cidades de cimento e aço
em palhoças à beira de rios
em casas fincadas sobre estacas
dentro de lagos
em casebres dependurados
em morros derriçados
em choças de pau-a-pique
de pedra ou de argila
cobertas com folhas de palmeiras
à beira de vulcões
à sombra de baobás
ao sol do deserto
às margens de rios e mares
sobre montanhas nevadas
gente alta
gente baixinha
gente de pescoço comprido
gente de olhos irisados
cada um com sua cor
negros
brancos
amarelos
todos têm cabeça tronco e membros
comem folhas
comem carnes
comem frutos e raízes
falam com vozes roucas
falam com vozes finas
e cantam
e dançam
e até guerreiam
se têm cores as suas peles
se têm cores os seus olhos
brancos são seus dentes
brancos são seus ossos
caminham todos sobre os pés
trabalham todos com as mãos
pensam todos com o cérebro
têm todos bocas que riem e falam
bocas que comem e beijam
narizes que cheiram
ouvidos que ouvem
olhos que veem e contemplam
a pele que sente o vento
e a carícia de outra mão
arrepia igual sem distinção de cor
não tem cor o sentimento
não tem cor o pensamento
e bate em cada peito igual coração
que faz correr em todas as veias
o mesmo sangue rubro
carregando a mesma vida multicor
gente branca
gente preta
gente parda
gente amarela
gente de cores e sabores
gente apenas
contada aos bilhões
são átomos invisíveis
num planeta perdido e solitário
a navegar por galáxias infinitas
15.10.2016
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