3 de nov. de 2017

PEDIDO AO TEMPO





(Foto de Fátima Alves: tipuana)




Amigo, faça-me um favor:

vá até a velha cidade perdida,

há lá uma praça, na praça uma tipuana,

suba a alameda ao lado dela

logo depois do coreto,

à sua esquerda: um banco, talvez seja um banco novo

- não importa -

faça de conta que é o velho banco de cimento

de assento curvo e o nome do doador

já quase apagado, no encosto;

vá lá, por favor,

você ainda vai encontrar um pequeno grupo

de rapazes

todos muito jovens, todos muito pobres,

todos repletos de esperanças.

Entre eles estou eu:

fácil será reconhecer-me,

já que sou o mais falante

e aquele que mais claro tem o brilho no olhar,

bata no ombro desse jovem - que sou eu -

e diga-lhe, diga-lhe para olhar para o alto,

para o alto das velhas palmeiras imperiais

e manter por alguns segundos o olhar

naquele céu recortado de folhas verdes,

para fotografar na retina da memória,

para sempre, aquela nesga de azul,

porque, amigo - e você deverá dizer isso a ele,

ao jovem que sou eu - que ele nunca mais

terá de volta aquele instante da mais pura

e efêmera felicidade.



25 de abril de 2012

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