19 de nov. de 2017

SOLIDÃO, CONHECE-A?



(Pablo Picasso; absinthe drinker)





Sabe a solidão? Aquela coisa

que nos paralisa quando

bate no peito

e nos deixa no chão

como se de repente desfeito

em nada, em dor, em tristeza,

arrebenta o pobre coração

e com destreza destrói

cada fibra, cada veia? Pois, é:

a solidão!

Fria, invisível,

insensível como as cordas

de um violão,

um violão esqecido num canto,

coberto de folhas mortas...

É, essa mesma, a solidão

que você conhece e despreza,

aquela que frequenta os versos

de poetas e de candidatos a poetas,

como toda musa que se preza,

é ela, sim, que aquece

a chama de nossa derrisão...

A velha, boa - e maldita -

solidão: o estar mais só

do que num túmulo,

aquela que não tem dó

de nossas possibilidades de angústia,

e aperta na garganta um nó

que não desata,

musa discreta e barata

a tingir de cinzas o dossel

sob cujas franjas nos acolhemos,

a solidão, sim, a solidão,

essa mulher que nos toma

em braços e enlaços e embaraços

para jogar-nos numa espiral

de vento, de pó, de nada...

essa a solidão de que falo,

essa a solidão que a todos maltrata...

tenho-a em alta conta, sim,

mas não dentro de mim,

que convivo muito bem comigo

e não a convido nunca

para o meu festim...


(26.7.2012; 30.7.2012; 13.10.2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário